Panmela Castro | Deriva Afetiva: Dakar

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Panmela Castro | Deriva Afetiva: Dakar

18 de Ago / 10 de Set de 2023

Em uma jornada em busca de sua ancestralidade africana, a artista visual Panmela Castro passou um mês em Dakar, capital do Senegal, onde participou da residência artística Black Rock, do artista Kehinde Wiley, autor do famoso retrato de Obama exposto na National Portrait Gallery, em Washington, D.C. Na volta ao Brasil, além das lembranças e aprendizados de uma das maiores experiências de sua vida, a carioca trouxe consigo inúmeros trabalhos inéditos que, a partir do dia 18 de agosto, serão apresentados ao público na exposição “Deriva Afetiva: Dakar”, no segundo andar do Centro Cultural Inclusartiz, no Rio.

Com apoio do Instituto Inclusartiz, Panmela foi a segunda brasileira selecionada para o programa. Antes dela, apenas Rafael RG (SP) participou em 2019. A disputada residência é voltada para artistas visuais, escritores e cineastas, cujos trabalhos se relacionam com a África. O projeto foi criado com a missão de fomentar a nova criação artística por meio do intercâmbio colaborativo e incitar a mudança no discurso global sobre o que o continente significa hoje.

Na exposição, que conta com a curadoria de Lucas Albuquerque, responsável pelo Programa de Residência Artística e Pesquisa do Inclusartiz, os visitantes poderão conferir uma série de dez retratos (uma de suas especialidades) de pessoas locais que posaram para a artista, incluindo o próprio Kehinde Wiley, com quem teve a oportunidade de conviver intimamente durante sua estadia. Segundo Panmela, seu trabalho tem grande semelhança com o do artista norte-americano. Além da temática (África, diáspora), ao retratar alguém, ambos se preocupam em colocar seus retratados em uma posição digna, criando uma imagem diferente para quem antes era ignorado.

“Acredito que dignidade fala também de identidade e, por isso, sempre nomeio os quadros com o nome e sobrenome do retratado e gosto que a pintura tenha olhos, boca, um rosto bem definido, que identifique quem é. Afinal, negros, mulheres e trans já foram apagados durante muito tempo”, afirma Panmela Castro.

De acordo com o curador, o retrato foi, ao longo da história da arte, uma ferramenta de poder e distinção que imortalizou uma série de figuras, em sua maioria branca, e reservou ao esquecimento narrativas de povos que foram subjugados. “O trabalho de Panmela é não só reverter e reescrever essa história para o presente e a posteridade, mas projeta-la em uma relação de intimidade com o outro. Intimidade esta que o espectador é convidado a participar, mediado pelas rápidas e expressivas pinceladas da artista”, ressalta Lucas Albuquerque.

Além dos quadros, Panmela também criou uma instalação composta por 50 espelhos com retratos de mulheres africanas, como Al-Kahina, Anne Zingha, Kimpa Vita, Iyoba Idia, Ranavalona III, Margaret Affiong Ekpo, entre outras, que ela conheceu durante uma visita ao Museu das Civilizações Negras. “Fiz uma releitura de uma tradição local de pintar em vidros, só que nos espelhos”, explica.

O mergulho na cultura africana rendeu ainda uma coleção de roupas, incluindo vestidos, turbantes e conjuntos de calça e blusa, desenhados por ela e costurados pelo famoso alfaiate local Mr. Mamadou Faye. “Eu comprei os tecidos e criei modelos tradicionais africanos com um toque contemporâneo da moda brasileira”, diz.

As peças, com diversas estampas de motivo africano, também serão exibidas na exposição, assim como um documentário com depoimentos da artista sobre cada trabalho. Completando o conjunto de obras, está ainda uma série de fotos com momentos da residência e da viagem. Em sua incursão pela diáspora, Panmela pode ver e conhecer os dois lados da África: o do luxo e o da África profunda, dos vilarejos e comunidades nativas.

Em suas andanças, a artista conheceu a Ilha de Goreia, onde existe a chamada “porta sem retorno”, por onde os escravizados passavam e nunca mais retornavam; e visitou a Casamance, em Seliky, onde conversou com o rei da comunidade Oussouye sobre o Brasil. “Perguntei a ele como eu, no papel de artista, poderia contribuir para parar com o genocídio negro no Brasil. Ele me disse para agir de forma pacífica, com fé e fez um trabalho para poder abrir o caminho dos jovens brasileiros”, revela.

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