Retrospectiva: Inclusartiz realizou quatro exposições em seu centro cultural em 2022
Ano foi marcado pela abertura definifitiva da nova sede do instituto na Gamboa, Zona Portuária do Rio de Janeiro
Em 2022, o Instituto Inclusartiz comemorou 25 anos de história com muitas novidades e motivos para celebrar. Logo em maio, a organização carioca iniciou uma nova fase com a inauguração definitiva de seu centro cultural na Gamboa, Zona Portuária do Rio de Janeiro. O espaço, adquirido em 2021 e aberto ao público parcialmente no mesmo ano, passou por um período de reformas e voltou a abrir suas portas este ano com a exposição “Gamboa: nossos caminhos não se cruzaram por acaso”.
Sucesso de público, a mostra, com curadoria de Lucas Albuquerque, recebeu mais de 1.300 pessoas nos dois meses em que esteve em cartaz, apresentando cerca de 80 obras de 25 artistas e coletivos conectados afetivamente à região portuária da cidade. A exposição teve como objetivo principal promover e valorizar a produção artística local, bem como aproximar a comunidade e seu entorno ao espaço. Inspirado em um manuscrito de Tia Lúcia (1933-2018), pintora, escultora e moradora do Morro do Pinto (“Nossos caminhos não se cruzaram por acaso. Os maiores especialistas em sorrisos estão aqui”), o título da mostra fez eco ao desejo de abordar os cruzamentos entre artistas e produtores de cultura da região, em pleno crescimento enquanto polo cultural na cidade.
“A exposição buscou pensar a região a partir da proposta do encontro, propiciado pelo cruzamento de caminhos entre artistas, curadoria, pesquisa e instituição, valendo-se das transformações e passagens como força-motora para lembrar o passado do lugar que ocupamos hoje e analisar as práticas que se desenham sob seus rastros”, reflete o curador.
Embora tenha sido composta majoritariamente por obras de artistas contemporâneos, a seleção de pinturas, esculturas, fotografias e vídeo-performances também incluiu trabalhos de personagens notáveis que retrataram e viveram amplamente o ambiente da Zona Portuária ao longo de suas trajetórias, como a própria Tia Lúcia, Augusto Malta (1864-1957), Heitor dos Prazeres (1898 – 1966) e Rossini Perez (1932-2020). Multigeracional, a relação de artistas vivos compreendeu atuais e ex-residentes do bairro e nomes que concentram suas produções no local e adjacências: Bordô, Bruna Santos, Camila Ribeiro, Coletivo MP, Daniel Murgel, Diego Deus, Douglas Dobby, Gustavo Speridião, Lolly, Laís Amaral, Leandro Barboza, Leandro ICE, Mãe Celina de Xangô, Maurício Hora, Oficina do Prelo, Raphael Couto, Rainha F., Slam das Minas, Teresa Speridião, Thiago Haule e Yhuri Cruz.
Já em agosto foi a vez da exposição “Quermesse”, coletiva que marcou o encerramento da 11ª edição do programa Imersões Poéticas, ocupar o primeio andar do Centro Cultural Inclusartiz. Pela primeira vez, o Instituto Inclusartiz e a Escola Sem Sítio, projeto que promove o curso, somaram seus esforços para o fomento e disseminação da arte contemporânea e da cultura brasileira, valores presentes no DNA das duas instituições.
Fruto desta parceria, a mostra, com curadoria de Cadu e Pollyana Quintella, apresentou trabalhos – entre desenhos, pinturas, fotografias e vídeo-artes – desenvolvidos por dez artistas que integraram o programa de formação no primeiro semestre de 2022: Ana Bia Novais, Antonio Tebyriçá, Bernardo Liu, Bia Lopes, Carlos Mello Carvalho, Emilliano Freitas, Guilherme Tarini, Juliana Ronchesel, Suelen Lima e Thaís Iroko. Escolhido coletivamente pelos alunos do curso, o título da exposição remeteu às festas religiosas, embora nada tenha a ver com as crenças, mas com a tradição em que cada indivíduo colabora com alguma contribuição, neste caso, com arte.
“Os trabalhos produzidos falam muito de memória, infância e ancestralidade. Tem também uma inclinação antropofágica que lembra a semana de 1922. A partir deste conceito, de apropriação e incorporação de alteridades, em que cada um entra com um pouco, criamos juntos o título ‘Quermesse’”, revelou Cadu.
Em setembro, mês em que completou 25 anos, o Instituto Inclusartiz apresentou ao público duas novas mostras, em paralelo a ArtRio 2022: “Por detrás da retina” e “Open-studio: estudos em trânsito”. A primeira, que segue em cartaz até 29 de janeiro de 2023, reúne obras de artistas brasileiros contemporâneos, cujas obras investigam, de diferentes formas e por meio de variados suportes, as relações entre o espaço físico e a virtualidade, ao passo em que buscam instaurar novos territórios que extrapolam a capacidade convencional da visão humana.
“Vivemos uma era onde a ideia convencional de espaço, por exemplo, parece ter sido colocada em xeque, expandindo-se para dimensões insuspeitadas (o metaverso, vá lá), terrenos onde nossos aparatos oculares parecem carecer de recursos para dar conta de enxergar aquilo que se coloca bem diante de nossos olhos”, explica o curador Victor Gorgulho sobre o título da exposição.
Entre vídeos, instalações, pinturas, esculturas e imagens digitais, a mostra apresenta um recorte intergeracional, mesclando a produção de jovens artistas a nomes renomados do circuito da arte contemporânea brasileira. Participam: Adriana Varejão, Bárbara Wagner & Benjamin de Burca, Daniel Frota de Abreu, Gabriel Junqueira, Gabriel Massan, Laryssa Machada, Luiz Roque, Ilê Sartuzi, Pedro Victor Brandão, Rafael Bqueer, Rodolpho Parigi, Sofia Caesar, Vitória Cribb e Vivian Caccuri & Gustavo von Ha.
Já “Open-Studio — estudos em trânsito”, que pode ser visitada até 29 de dezembro, tomou o formato de estúdio aberto como ponto de partida, exibindo trabalhos e pesquisas em processo dos artistas, curadores e pesquisadores que passaram pelo programa de residências artísticas do instituto ao longo de 2022: Brígida Campbell, Filomena Mairosse, Luisa Brandelli, Mariana Souza, Mkutaji Wa Nija, Moara Tupinambá, Nay Jinknss, Patfudyda e Paulete Lindacelva.
Com curadoria de Lucas Albuquerque, coordenador do programa, a coletiva apresenta um caráter heterogêneo, mesclando trabalhos em vídeo, fotografia, publicações, esquemas e metodologias de pesquisa.
“A mostra pretende apresentar ao público o caráter processual e altamente experimental que a nossa residência é capaz de proporcionar àqueles que possuem a oportunidade de participar. Para isso, a mostra faz uso da ideia de estudo, considerando que a residência é uma experiência imersiva onde o residente tem a chance de se envolver em sua pesquisa sem a necessidade de apresentar um ‘produto finalizado’, como também a ideia do trânsito, levando em consideração a riqueza que o deslocamento físico e intelectual proporcionado pela residência é capaz de oferecer ao artista ou pesquisador”, observa o curador.