13 de outubro de 2022

Instituto Inclusartiz inaugura exposição virtual que traça um mapa da cena drag na arte contemporânea

Com curadoria de Lucas Albuquerque, “ARRASTO” apresenta vídeos, performances e artes digitais de Akira Hell, Gui Mauad, Iryna Leblon, Organzza e UNA a partir do dia 14 de outubro na plataforma Bica

Com a proposta de mapear e difundir a cena drag na arte contemporânea, o Instituto Inclusartiz inaugura a exposição virtual “ARRASTO”, que apresenta trabalhos de cinco artistas de grande relevância e de diferentes origens dentro do segmento cultural LGBTQIAP+ no país. O curador Lucas Albuquerque, que também é coordenador do programa de residências artísticas do instituto, convidou Akira Hell, Gui Mauad, Iryna Leblon, Organzza e UNA para criarem obras inéditas, entre vídeos, performances e artes digitais, para a mostra que ocupa a plataforma Bica a partir do dia 14 de outubro.

“Durante o ano de 2022, foram organizadas uma série de encontros para a discussão de textos, trocas sobre processos artísticos e conversas com este grupo de artistas. Os trabalhos comissionados para esta exposição são frutos desse processo de acompanhamento, que visa não apenas debater tópicos importantes para o entendimento acerca da performatividade drag, perpassando temas como cultura visual, gênero e corpo, mas também estratégias de inserção e circulação no mercado da arte”, afirma o curador.

Ao longo de dez semanas, cada um dos projetos será exibido em uma página dedicada, junto a uma programação quinzenal que reúne entrevistas individuais, painéis e lives, de modo a desvendar como a cena drag vem repensando as práticas artísticas dentro do segmento. Além disso, o projeto pretende desdobrar mesas de debate com as artistas e eventos presenciais em torno de suas práticas, que serão sediados no Instituto Inclusartiz. Dividida em duas etapas, a exposição, cuja primeira fase foi viabilizada pelo edital FOCA, pretende posteriormente se transformar em uma exposição coletiva presencial, que contará com outros artistas da cena contemporânea, buscando estabelecer um fio condutor a partir das práticas apontadas pela performatividade drag e a maneira como elas se relacionam com as questões em voga na arte contemporânea.


AS ARTISTAS E SUAS OBRAS


Akira Hell
Retificação ao corpo, 2022
Vídeo digital e fotografia

Utilizando o corpo como um lugar de metamorfose e laboratório, o trabalho apresentado por Akira Hell é estruturado de modo a evidenciar o nascimento de uma nova criatura, onde o humano e o não-humano se encontram. Construído a partir de narrativas de vídeo e fotografias, o projeto se modula por meio da construção desse ser: iniciando-se no casulo, passando ao ventre, seguindo pela mandíbula e findando-se na formação da estrutura óssea. Atingindo sua forma final, a artista põe o corpo a transitar pelas ruas em posição de ataque, desafiando o olhar do outro. O trabalho integra a pesquisa da artista em torno da produção de um corpo dissonante, em que faz uso de próteses e objetos como maneira de congregar atributos e usos distintos à existência humana.


Sobre Akira Hell

Layonel Piter, de 26 anos, é nascido e criado em Duque de Caxias – RJ. Dele vem a persona Akira Hell, uma criatura mutante que pertence a cena noturna do Rio de Janeiro, onde busca trazer questionamentos acerca do corpo, que em sua prática é entendido como um laboratório capaz de minar estruturas e relações de poder que constroem a cultura contemporânea. Sua performance resulta em uma abordagem tanto sexual quanto bizarra, onde por meio de próteses, materiais orgânicos e indumentária, fabrica um universo creepy próprio que a possibilita elaborar fotografias, vídeos e performances. O corpo é seu objeto de pesquisa: tensionado na busca por seu limite, a artista busca fusionar a figura do humano, do animal e do monstro, apresentando-o como um dispositivo para instigar o debate sobre o que é a performance em drag.

Retificação ao corpo (2022), de Akira Hell


Gui Mauad
Bucólica, 2022
Vídeo-performance

Bucólica é uma vídeo-performance que apresenta duas personagens – um apicultor muito ocupado, arquetipicamente masculino, e sua devota parceira – que vivem uma relação de dependência e ilusão. A obra mistura o fenômeno da comunicação não-verbal num casal romântico com o surrealismo sempre presente no trabalho de Gui Mauad. As linhas entre as sensações vividas pelas personagens se fundem com a sua imaginação fértil, que busca justificar nas expectativas da mulher a inércia do homem. O vídeo busca explorar, além da performance, a visualidade desenvolvida pelas mãos de Gui ao confeccionar os figurinos, maquiagens e a conceitualização da peça com seus desenhos. O artista vive ambas as personagens e traz a intimidade das duas versões de si mesmo para dialogarem entre si.


Sobre Gui Mauad

Guilherme é ilustrador, pintor, maquiador e artista visual e dá vida a Gui Mauad, sua drag; atuando em uma intersecção entre performance e teatro. No mundo da beleza, tem reconhecimento nacional e internacional por sua contribuição ao movimento Alien Avant-Garde (STATUS Magazine) e na UOL Universa. É maquiador em formação da CAMPI Makeup School e tem ilustrações publicadas no livro “Quando Você Voltar”, de Michel Cambrona. Já performou em diversos palcos do Rio de Janeiro, como Teatro Rival, Fosfobox, Galpão Gamboa, e também em festivais de música e arte, como o carnaval Saturnália, no Museu de Arte do Rio – MAR, e na festa Sangra Muta, em São Paulo. Gui Mauad é performer residente da festa KODE, onde explora sua arte performática com liberdade. Em seu trabalho, busca desdobrar sua persona em uma intersecção entre o alienígena e o botânico, criando um universo ficcional que tensiona as possibilidades de um corpo em constante transmutação.

Bucólica (2022), de Gui Mauad


Iryna Leblon
Algoritmo, 2022
Vídeo

Em “Algoritmo”, Iryna busca expor suas vivências e angústias envolvendo a digitalização de nossas relações com o corpo. O termo “algoritmo”, popularizado na era do desejo por “engajamento” nas redes sociais, representa a forma como equivocadamente acreditamos que nossas escolhas sobre nossos corpos estão totalmente livres de vigilância no mundo real. No vídeo, desenvolvido a partir de animação 3D, a artista faz uso da repetição de informações para a construção de uma narrativa em que as questões existencias do mundo real encontram seu eco na tela digitalizada.

 
Sobre Iryna Leblon

Iryna, de 21 anos, é nascida e criada no Rio de Janeiro e acadêmica do curso de Comunicação Visual da UFRJ. Atua como designer gráfica autônoma e seus projetos misturam desde a fotografia até universos 3D. Seus trabalhos partem de sua vivência enquanto LGBTQIAP+, propondo universos imaginários e ficcionais por meio da imagem. Para isso, Iryna investiga o ambiente digital como um espaço de possibilidade para a construção de sua persona, na qual a cena ballroom, movimento que esteve em alta na década de 1980 e ressurgiu nos últimos anos no mainstream, é mesclado a uma ideia de futurismo “mastigado”, criando um universo onde a resistência histórica dos movimentos pela diversidade proporcionem também outras perspectivas de futuro.

Algoritmo (2022), de Iryna Leblon


Organzza
E se fosse carnaval o ano inteiro?, 2022
Fotografia digital

É possível uma realidade em que o julgamento alheio em torno das expressões identitárias e de gênero sejam anuladas, reimaginando nossos acordos sociais? O projeto “E se fosse carnaval o ano inteiro?” se constrói a partir de uma série de fotografias em que Organzza, drag queen e artista visual, evidencia espaços em que os acordos sociais atuam e podem ser questionados. Levando para a rua as fantasias de carnaval e as práticas de montação, a artista provoca a maneira de fruição dos espaços públicos, provocando a estranheza em fazer conviver alegorias carnavalescas no cotidiano urbano.


Sobre Organzza

Vinícius Andrade é ator e figurinista acadêmico do curso de Artes Cênicas da UFRJ. Atualmente trabalha como artista visual e criador de conteúdo com sua personagem drag: Organzza, vencedora da segunda temporada do TNT Drag. Sua performance encontra referências no afrofuturismo, flertando com a moda e as artes visuais. Por meio da fotografia e da performance, Organzza busca trabalhar com figuras cujas referências remontam ao campo do sagrado, da fantasia e, principalmente, ao universo do carnaval, apresentando-os em meio ao cenário urbano. Além disso, sua pesquisa pretende mesclar a cena do carnaval com a da ballroom, buscando as relações que concernem às suas alegorias, visualidades e resistências.

E se fosse carnaval o ano inteiro? (2022), de Organzza

UNA
Metamorphosis, 2022
Vídeo

“Metamorphosis” teve início em 2020 enquanto produção audiovisual, reunindo vídeo, performance, arte 3D e produção musical. O projeto retrata uma relação entre o corpo vivo e humano da personagem principal – UNA – com uma forma de vida desconhecida que toma conta do seu corpo, aos poucos, de forma simbiótica. Fazendo conviver as modificações do corpo e seu prolongamento na indumentária, “Metamorphosis” já virou também performance ao vivo em 2022, na festa Neblina, e agora volta às telas na exposição, trazendo um novo ato.


Sobre UNA

Eduardo é publicitário, tem 27 anos e transitou entre diferentes formas de expressões artísticas durante o seu crescimento. Há alguns anos, encontrou na drag UNA uma forma de canalizar as inspirações que o atravessa. Utiliza tanto do ambiente físico como do digital para a realização de seus projetos. UNA aborda questões de gênero e indumentária a partir da moda, buscando a intersecção entre o camp e o andrógino por meio de sua montação. Em seus trabalhos recentes, a artista pretende elaborar a ideia de mutação e transformação como uma chave de leitura para a performatividade drag, investigando diferentes possibilidades de leitura que a indumentária pode proporcionar.

Metamorphosis (2022), de UNA

SERVIÇO

ARRASTO
Curadoria:
Lucas Albuquerque
Artistas: Akira Hell, Gui Mauad, Iryna Leblon, Organzza e UMA
Período expositivo: 14 de outubro a 31 de dezembro
Acesso: www.bicaplataforma.com/arrasto
Apoio: FOCA: Fomento à Cultura Carioca e Prefeitura do Rio de Janeiro