EXPOSIÇÃO IMENSURÁVEIS
O Instituto Inclusartiz encerrou, com êxito e ampla participação do público, a exposição Imensuráveis, que ocupou sua sede na Gamboa entre os meses de fevereiro e abril de 2025.
Com curadoria de Aldones Nino, a mostra reuniu nomes potentes da arte contemporânea brasileira e internacional para refletir sobre a multiplicidade de corpos, histórias, afetos e territórios que desafiam a lógica classificatória do mundo ocidental.
Uma Curadoria para o Inclassificável
A história da arte buscou, ao longo do tempo, classificar e organizar seus objetos de estudo, estabelecendo categorias, estilos e movimentos. No entanto, Imensuráveis propôs um olhar voltado a processos criativos que escaparam dessas classificações, transbordando limites disciplinares e rejeitando definições rígidas. A exposição refletiu a arte como um campo de experimentação, que ultrapassou os limites da representação imediata para abrir espaço à criação de novas formas de existência.
No centro dessa reflexão esteve a obra da artista Manauara Clandestina, residente do Instituto na ocasião, cuja produção questionou convenções históricas da imagem, transformando a autorrepresentação em um ato de inscrição de ancestralidades. Como destacou a teórica Leda Maria Martins, “a ancestralidade é um tempo espiralar, que retorna, restabelece e também transforma”. Essa perspectiva atravessou a obra de Manauara e se expandiu em diálogo com os demais artistas presentes na mostra.
A exposição reuniu obras que exploraram temporalidades múltiplas e questionaram estruturas de poder, ampliando as construções do visível e promovendo novas possibilidades de enunciação. Nesse contexto, a noção de incomensurabilidade não representou ausência ou indefinição, mas se afirmou como uma celebração da complexidade e multiplicidade da experiência humana.
Artistas Participantes
A exposição Imensuráveis destacou uma constelação potente de artistas cujas obras atravessam linguagens, temporalidades e territórios. Um dos pontos centrais da mostra foi a presença de artistas que participaram do programa de residências do Instituto Inclusartiz — artistas cuja produção vem sendo acompanhada, fomentada e fortalecida ao longo dos anos pela instituição.
Entre os residentes e ex-residentes do Instituto, estiveram presentes:
- Manauara Clandestina (residente na ocasião da mostra)
- Arjan Martins
- Ayla Tavares
- Marcela Cantuária
- Maxwell Alexandre
- Vivian Caccuri
- Xadalu Tupã Jekupé
Ao lado deles, integraram a exposição importantes nomes da arte contemporânea brasileira e internacional, como:
- Claudia Andujar
- Jota Mombaça
- Márcia Falcão
- Patricia Abbott
- Rosângela Rennó
- Sonia Gomes
- Valeska Soares
- Ventura Profana
Programa Educativo
O programa educativo da exposição foi um dos grandes destaques do período expositivo. Intitulado “Conversas Imensuráveis”, promoveu diálogos, oficinas e encontros formativos com o público, buscando estreitar os laços entre arte, território e educação crítica.
Destaques do Programa:
- 20 de fevereiro: Primeira exibição no Rio de Janeiro do filme Migranta, de Manauara Clandestina, seguido de conversa com a curadora Andressa Rocha. O curta, que integrou a 60ª Bienal de Veneza, discute identidade, migração e intimidade de forma sensível e poética.
- 25 de março: Encontro entre Marcela Cantuária e Aldones Nino, partindo da obra À revelia das grandes cidades, refletindo sobre protagonismo feminino, insurgência de corpos dissidentes e arte como ferramenta de reescrita da memória.
Conversas Imensuráveis no Instituto Inclusartiz
No dia 20 de fevereiro, o Instituto Inclusartiz recebeu a primeira edição do Conversas Imensuráveis, programa que propõe encontros entre arte, pensamento e território. A estreia contou com a exibição do filme “Migranta” (17min), da artista Manauara Clandestina, seguida de uma conversa com a curadora Andressa Rocha.
Esta foi a primeira exibição do filme no Rio de Janeiro. Apresentado anteriormente na 60ª Bienal de Veneza, Migranta aborda questões como identidade, relações de intimidade, moda e fluxos migratórios, oferecendo um olhar sensível e crítico sobre deslocamentos e pertencimentos.
Em março, Marcela Cantuária e o curador Aldones Nino estiveram juntos em mais uma edição do programa. A partir da obra “À revelia das grandes cidades”, discutiram o protagonismo político e cultural das mulheres, bem como a presença insurgente de corpos dissidentes na arte contemporânea. A conversa propôs reflexões sobre como a produção artística pode desafiar estruturas de poder e reescrever memórias.
Oficinas de Março: arte, território e diversidade
Em comemoração ao mês das mulheres e da diversidade, o Programa Educativo Caminhos para a Gamboa, coordenado por Fernando Porto, desenvolveu uma programação especial com oficinas criativas conduzidas por artistas convidadas. A proposta foi fomentar encontros afetivos e artísticos entre o Instituto e a comunidade, valorizando saberes periféricos, femininos e dissidentes.
Priscila Rooxo – Pintura e Poder
Uma experiência imersiva em pintura com a artista @priscilarooxo, propondo a criação de imagens provocativas a partir de conversas sobre gênero, território e poder.
Oficina “Sample – Memória e Imagem” com Thaís Iroko
A artista @thaisiroko convidou os participantes a ressignificar memória, corpo e território por meio de uma iconografia pessoal construída com pintura, objetos, vídeo e performance.
Oficina “Corpa-Estandarte: Monstração Carnavalesca” com Rafa Bqueer
Em uma vivência vibrante conduzida por Rafa Bqueer, o público mergulhou nas tradições do Carnaval, explorando o poder dos estandartes vestíveis inspirados em mascarados, criaturas carnavalescas e mitos brasileiros. Em pauta, o Carnaval enquanto ato político e a força do criaturesco nas manifestações culturais.

Construção de Poética e Pesquisa Artística com Caninana
Voltada para jovens artistas, esta oficina propôs o desenvolvimento de poéticas próprias a partir da investigação artística.
Cores no Caminho – Pintura com Renata Leoa
A artista @elaleoa_ guiou uma oficina em que os participantes criaram paletas afetivas a partir dos trajetos que percorrem, resultando em pinturas inspiradas nos encontros entre cidade e subjetividade.

Oficina “Esculturação” com Iah’ra
A artista @iah.rra conduz a oficina Esculturação, que convida o público a experimentar formas tridimensionais com tecido, papel, linha e alfinetes. Uma proposta de criação sensível e colaborativa, onde o espaço e a matéria são pensados de forma escultórica.
Caminhos para a Gamboa recebeu escolas da região
Além das oficinas abertas ao público, o Instituto Inclusartiz também recebeu escolas da região portuária, fortalecendo o vínculo entre território, arte e educação. As visitas foram mediadas por Christian Ferreira, com roteiros educativos especialmente desenvolvidos em parceria com o coordenador do Programa Caminhos para a Gamboa, Fernando Porto, em diálogo com o curador Aldones Nino e a artista Manauara Clandestina.
Essa construção coletiva dos roteiros foi fundamental para potencializar a experiência dos estudantes diante de uma mostra tão rica e culturalmente diversa quanto Imensuráveis. A mediação cuidadosa garantiu não só o entendimento das obras, mas também a conexão dos visitantes com as múltiplas narrativas, identidades e histórias presentes na exposição.
Por meio dessas ações, o Instituto reafirma seu compromisso de tornar a arte um campo acessível e transformador, estimulando o pensamento crítico e o diálogo entre diferentes saberes, sempre em sintonia com as especificidades do território.
Abertura à Comunidade: Escolas da Região Portuária
A exposição também recebeu escolas da região portuária, promovendo visitas mediadas que conectaram estudantes ao conteúdo crítico e poético das obras. A proposta valorizou o contato direto com os artistas e curadores, estimulando a construção de novos olhares e o fortalecimento da autoestima cultural de crianças e jovens do território.
Sobre o Curador
Aldones Nino é curador e pesquisador radicado na Espanha. Doutor em História da Arte e Artes Visuais (Universidad de Granada/UFRJ) e pós-doutorando em Museologia (Universidade Lusófona, Lisboa), atua como Diretor de Programas do Collegium (Arévalo, Espanha) e colaborador do Instituto Inclusartiz. É também membro do ICOM e do CECA, integrando redes internacionais de curadoria, educação e pesquisa em arte contemporânea.
Imensuráveis se despede como um marco do calendário cultural de 2025, deixando como legado não apenas obras potentes, mas também vínculos, escutas e processos formativos que seguem reverberando no público e na cidade.