Entrevista: Lucas Albuquerque explica como será o processo de seleção para o Programa de Residência e Pesquisa este ano
Confira o bate-papo com o coordenador do programa sobre os principais pontos da Open Call 2023. Inscrições prorrogadas até 12 de março
O Instituto Inclusartiz lançou no dia 23 de janeiro a convocatória para a edição de 2023 de seu Programa de Residência Artística e Pesquisa, que segue com inscrições abertas até o dia 12 de março. Este ano, além de contemplar artistas, curadores e pesquisadores do Brasil, o programa também oferece oportunidades para candidatos oriundos de outras nações integrantes da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
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As residências terão duração de quatro semanas e serão realizadas ao longo do ano na sede do instituto, na Gamboa, Zona Portuária do Rio de Janeiro. Ao todo, são oferecidas dez vagas, sendo cinco para artistas e cinco para curadores/pesquisadores. Os interessados em participar devem submeter seus portfólios e projetos inéditos, que precisam estar relacionados com as diretrizes do instituto. A análise das propostas será feita pela equipe de residência do Inclusartiz e por um júri convidado composto por profissionais das cinco regiões do Brasil.
“A proposta é que os dez residentes sejam recebidos em duplas, formadas por um artista e um curador ou pesquisador. Cada dupla passará quatro semanas no instituto, configurando um ciclo. Neste edital, estão previstos cinco ciclos. Dentro dessas propostas de união, pretendemos costurar o programa de maneira que as pesquisas tenham um ponto de contato, entendendo que não necessariamente elas precisam tratar de um mesmo tópico, mas que podem apresentar intercâmbios que auxiliem as duplas a trocarem e a se complementarem”, explica Lucas Albuquerque, Coordenador do Programa de Residência Artística e Pesquisa.
Leia abaixo a entrevista completa.
Lucas, o Programa de Residência Artística e Pesquisa do Instituto Inclusartiz é um dos mais completos e prestigiados do país. Na sua visão, qual os principais diferenciais do programa do Inclusartiz?
Eu acho que o maior diferencial do nosso programa é que ele é muito próximo ao residente. A gente tem uma equipe dedicada que está a todo momento próxima ao artista, ao curador, ao pesquisador, no desejo de proporcionar o melhor espaço para o desenvolvimento da pesquisa e da investigação poética. Então, sem dúvidas, eu destacaria o nosso time, nossa equipe de curadoria, de comunicação, de produção, porque estão todos muito unidos para promover esses esforços. E aí vem também toda a cadeia de desenvolvimento, que envolve pesquisas em acervos e diálogos com outros agentes e instituições do campo da arte contemporânea.
Conta um pouco sobre a estrutura do espaço de ateliê que os residentes terão acesso durante a residência e sobre a estrutura geral do programa. O que os candidatos podem esperar desta residência?
O espaço de trabalho oferecido pelo instituto está localizado no segundo andar do nosso centro cultural, e é importante mencionar que é um casarão histórico do início do século XX com vista para a Praça da Harmonia. Este espaço é um ateliê coletivo em que conseguimos modular toda a estrutura de trabalho do residente de acordo com as necessidades de seu projeto, como por exemplo a construção de um mural de referências e espaço expositivo. Tudo acontece nesse pavimento, que também pode receber oficinas, propostas performáticas, rodas de conversa e apresentações de trabalho.
Este ano, a convocatória está aberta para candidatos oriundos de todos os países integrantes da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste). Quais os objetivos dessa decisão?
A decisão de abrir a convocatória para outros países, tomada a partir da Open Call do ano passado, vem do desejo de expansão do instituto para outros territórios, entendendo a multiplicidade cultural que conseguimos abraçar dentro dos nossos projetos. Temos também o desejo de incentivar a riqueza da produção artística e o contato entre agentes de diversos locais. Aproveitamos esse gancho para pensar o programa de residências por um âmbito internacional a partir de uma chave de discussão, e elegemos a questão do idioma como um norteador interessante. Tanto porque isso possibilita um intercâmbio cultural facilitado pela familiaridade linguística, mas também porque busca entender todas as particularidades que cada um desses países têm, com as suas próprias maneiras de utilização do Português, assim como as implicações das suas variações e como isso acaba afetando o trabalho artístico. Então, isso acabou sendo a chave conceitual para a elaboração do projeto, que se expande também às propostas que a gente vai receber. E nem todas precisam estar pautadas por uma questão linguística, já que isso está muito mais evidente na construção do edital e no desejo do instituto de se expandir do que necessariamente na busca de uma poética específica no trabalho dos candidatos.
As residências serão realizadas entre maio e dezembro na sede do Instituto Inclusartiz, no Rio de Janeiro. Como será a organização dos residentes ao longo do ano?
A proposta é que os dez residentes sejam recebidos em duplas, formadas por um artista e um curador ou pesquisador. Cada dupla passará quatro semanas no instituto, configurando um ciclo. Neste edital, estão previstos cinco ciclos. Dentro dessas propostas de união, pretendemos costurar o programa de maneira que as pesquisas tenham um ponto de contato, entendendo que não necessariamente elas precisam tratar de um mesmo tópico, mas que podem apresentar intercâmbios que auxiliem as duplas a trocarem e a se complementarem. A gente viu ao longo do ano passado uma grande troca entre as duplas, com projetos de pesquisa que integravam os projetos artísticos do outro parceiro de ciclo, por exemplo.
O edital oferece dez vagas, sendo cinco para artistas e cinco para curadores/pesquisadores. Deste total, quantas serão destinadas a candidatos estrangeiros?
O edital prevê no mínimo dois candidatos internacionais. Essa quantidade pode ser ultrapassada, mas deve girar em torno deste número.
Além da equipe de curadoria do instituto, os candidatos também serão avaliados por um júri convidado, composto por profissionais das cinco regiões do Brasil. Como será esse processo?
O método de avaliação dos projetos de pesquisa adotado pelo Instituto Inclusartiz abarca um júri composto por cinco nomes de diferentes partes do Brasil, cada um representando uma região do país. Esse júri avalia cada uma das inscrições individualmente, buscando entender tanto a relevância do projeto e a coesão com o portfólio, como também a pertinência da proposta a ser desenvolvido dentro do nosso centro cultural, entendendo as nossas especificidades e as aberturas que temos para promover o seu desenvolvimento. Importante salientar que durante o processo cada um dos jurados vai olhar o portfólio e em seguida a gente debate em conjunto todos os nomes que foram apontados como relevantes para o processo de seleção. Até o momento que chegamos a dezoito, vinte nomes. Tendo essa lista final, os selecionados vão para a segunda etapa, em que eles irão fazer uma entrevista com o time interno do Instituto Inclusartiz, composto por Aldones Nino, Victor Gorgulho, Frances Reynolds e eu. Feitas todas as entrevistas, a gente faz a seleção a partir dos que se mostrarem mais pertinentes a participar do nosso programa de residências.
Quais serão os principais pontos a serem levados em conta no momento de seleção dos candidatos?
Primeiro, a relevância do projeto. É muito importante que a proposta aponte não só a descrição do que é e quais questões pautam a pesquisa, mas também como ela vai ser desenvolvida. Que apresente, se possível, um pequeno cronograma de como o candidato pretende realizar aquele projeto aqui no Rio. O segundo ponto é que os trabalhos apresentados dentro do portfólio do artista precisam ter uma conexão com o projeto submetido ao edital. Entendendo também que todo portfólio é um recorte da produção do candidato, é muito importante que eles se atentem à coesão entre projeto e portfólio, apresentando as questões que pautam seus interesses, que guiam ou guiaram eles a conduzirem o projeto que estão submetendo. Por último, outro ponto que é muito importante ser salientado é a equidade de gênero, cor e distribuição geográfica. Pretendemos construir um grupo de artistas e curadores que, unidos, apresentem uma grande teia de possibilidades em torno do que pode ser uma pesquisa artística.
Quais os principais erros que os candidatos costumam cometer na hora da inscrição? Quais pontos eles precisam estar atentos?
Eu acredito que o principal erro que os candidatos acabam cometendo é não ler o edital com atenção. Ali têm pontos muito importantes que devem ser seguidos para a candidatura ser considerada válida. O segundo é o descaso com o portfólio. Ele é a vitrine da pesquisa do artista ou curador e portanto é muito importante que ele seja objetivo, visualmente limpo e também que a condição do desenvolvimento da pesquisa seja evidente para o jurado. Como são muitas inscrições e os jurados precisam olhar um grande número de formulários, é essencial que o candidato seja bem objetivo nos seus desejos e referências. Uma outra coisa fundamental é que o projeto precisa ser muito bem estruturado. Uma proposta de pesquisa dispersa, pouco objetiva e com poucas informações dificilmente vai conseguir passar até a etapa final. Então é essencial que os candidatos aproveitem bem o espaço de escrita e que sejam sucintos e muito bem articulados nos seus desejos, apresentando, principalmente uma proposta de trabalho, pois ainda que ela se modifique ao longo do processo de pesquisa, é muito importante para o júri entender que o residente sabe do que ele domina o assunto, e, portanto, vai conseguir desenvolver a pesquisa.
Por fim, deixe uma dica a todos aqueles que desejam integrar o programa este ano.
A última dica que eu daria para os candidatos é serem coesos, honestos e que acreditem nos projetos submetidos. Para além de querer apresentar uma proposta sobre discussões que estejam em alta agora ou algo que acredite que a instituição vai se interessar, o candidato precisa ser íntegro e apresentar coesão entre a proposta e os outros projetos que já desenvolveu. Caso não seja, isso vai transparecer em toda a condução do processo, como na análise de portfólio e, principalmente, na defesa da proposta durante a entrevista.