ENTREVISTA: CONHEÇA MARCOS ROBERTO, NOVO RESIDENTE DO INSTITUTO INCLUSARTIZ
O artista paulistano chegou ao Rio de Janeiro para passar uma temporada de um mês em residência artística no Centro Cultural Inclusartiz, na Gamboa.
Nascido em Bauru (SP), Marcos se mudou para a capital de São Paulo em 2013 para estudar Artes Visuais na Faculdade Paulista de Artes (FPA). Autodeclarado artista, ativista e antirracista, seu trabalho provoca reflexões sobre os problemas sociais e busca trazer visibilidade às minorias, como evidenciado nas séries “Cotidiano” e “Páginas para um tempo em branco”, onde propõe uma reconstrução do Brasil colonial, como forma de dar voz às vidas invisíveis, negligenciadas por uma sociedade e um passado marcados pela desigualdade.
“Uso a arte para denunciar os abusos que a classe trabalhadora sofre, como má remuneração, falta de diretos trabalhistas, essa cultura escravocrata construída no Brasil. ”, conta.
Confira a entrevista completa abaixo.
Marcos, você saiu de Bauru (SP) para cursar Artes Visuais em São Paulo. Quando e como surgiu seu interesse pela arte contemporânea?
Em 2012, em Bauru, durante uma conversa com uma amiga, mencionei que estava com vontade de mudar para São Paulo. Ela sugeriu que eu cursasse Artes Visuais, pois eu gostava de desenhar. Em 2013, decidi mudar para São Paulo. Durante a faculdade (licenciatura), fui a uma exposição na Pinacoteca de São Paulo, onde tive meu primeiro contato e me apaixonei pela arte. Depois, na Bienal de São Paulo, tive certeza de que me tornaria um artista contemporâneo ao admirar a série “Rota do Tabaco” do Dalton Paula.
O trabalho como operário tem um papel de destaque em sua pesquisa. Em que medida essa vivência é refletida em sua obra?
Minhas obras incorporam todo o conhecimento que adquiri como operário na execução do meu trabalho. Além disso, uso a arte para denunciar os abusos que a classe trabalhadora sofre, como má remuneração, falta de direitos trabalhistas e a cultura escravocrata construída no Brasil.
Seu trabalho investiga materiais que são habitualmente descartados. Fale um pouco sobre seu processo.
Acredito que o material, a sucata em si, já traz sua história. Por exemplo, quando pego uma placa de trânsito usada destinada ao descarte, preservo nela a ação do tempo e as histórias que ela carrega, assim como a função que exerceu por anos. É um material que passou por várias mãos e histórias, desde sua fabricação até o momento do descarte. Por outro lado, um material novo está ali para ser transformado. Uma chapa de aço nova, por exemplo, pode se tornar outro objeto, como uma placa ou uma “folha de caderno”.
Qual a importância de iniciativas como as promovidas pelo Programa de Residência Artística e Pesquisa do Inclusartiz, que visam à inclusão e à promoção, em nível nacional e internacional, de artistas?
Para mim, é de extrema importância. Essas iniciativas contribuem para que artistas, muitas vezes de baixa renda, consolidem suas carreiras e também contribuem culturalmente para o desenvolvimento de uma sociedade mais reflexiva.
Quais são suas expectativas para esse período de residência aqui no Inclusartiz? Quais trabalhos/pesquisas pretende desenvolver ou dar continuidade?
Minha expectativa é ampliar meu conhecimento e fundamentar ainda mais meu trabalho, por meio da convivência com os curadores e outros artistas que passam por aqui, além de desenvolver minha pesquisa sobre o déficit cultural e educacional com os alunos de escola pública do Rio de Janeiro. Para a Inclusartiz, trouxe minha série “Páginas para um tempo em branco” nessa segunda fase do trabalho. Pretendo desenvolver obras que defendam a importância do ensino de qualidade como um elemento fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade.
Quais são seus planos para depois da residência no Rio de Janeiro? Já tem novos projetos em vista?
Após a residência, tenho um projeto de uma exposição individual na Galeria Movimento (representante do artista) e também pretendo desenvolver um projeto para mostrar a importância da arte na sociedade, em minha cidade natal, Bauru (SP).