Editorial | 1ª Bienal das Amazônias, por Victor Gorgulho
No dia 4 de agosto de 2023, em Belém do Pará, ocorreu a abertura da primeira edição da Bienal das Amazônias, reunindo a produção de 121 artistas oriundos de territórios “pan-amazônicos”, ou seja, onde a floresta se faz presente, em suas múltiplas camadas; sejam concretas, semânticas ou mesmo imateriais. Intitulada “Bubuia: Águas como Fonte de Imaginações e Desejos”, esta primeira edição elege como um amplo mote curatorial a questão da água e seus fluxos diversos por entre estes territórios, naturalmente contaminados uns pelos outros em suas culturas, riquezas naturais e, naturalmente, partilhando as complexidades que envolvem o complexo amazônico como um todo. O corpo curatorial é composto exclusivamente por mulheres: Vânia Leal, Flavya Mutran, Keyna Eleison e Sandra Benites.
O quarteto buscou, em sua pesquisa, ressaltar o desejo e mesmo uma certa preocupação em criar um retrato da Amazônia profunda, respeitosamente mesclando artistas locais com artistas “ligeiramente” fora deste eixo; narrativas individuais tornando-se, possivelmente, pulsantes investigações coletivas, pelo decorrer da mostra. Distribuídas por três andares de um prédio todo reformado para a ocasião, localizado no Centro Histórico de Belém, o visitante é convidado a conhecer (ou reconhecer?) as pluralidades culturais e de tantas outras ordens que – como num amplo e firme guarda-chuva sendo erguido pelo quarteto curatorial – revela o constante esforço em amarrar práticas, produções e trabalhos artísticos naturalmente distintos em suas raízes – geracionais, geográficas, materiais e além.
Acima de qualquer diferença de natureza parecida, no entanto, paira sobre a mostra, de sua entrada ao último corredor, um nítido desejo de reconhecimento não só de processos de individuação há tanto defasados (para o resto do país), nos gritos de resistência de etnias diversas de povos originários, de identidades amazônidas tão plurais quanto conectadas pelo desejo de chamar a atenção para o óbvio ululante: o próprio complexo amazônico, hoje pauta fundamental nas agendas ecológicas, socioeconômicas, culturais e outras mais de tamanha importância, em uma inegável escala global. Escutemos as águas, mergulhemos, sejamos convocad_s à(s) lutas que o presente nos impõe. Avante!
O Instituto Inclusartiz tem o prazer de anunciar nomes cuja participação prévia em seu Programa de Residência Artística e Pesquisa aqui espraiam-se em número, em obras e práticas diversas: Marcela Cantuária, Nay Jinknss, Xadalu Tupã Jekupé, Rafael Bqueer e Hal Wildson, dentre alguns destes. Ainda além, nomes que colaboraram recentemente com nosso programa expositivo, também figuram na 1ª Bienal das Amazônias, apresentando obras históricas e outras comissionadas para a ocasião, como é o caso de artistas como Adriana Varejão, Dayara Tukano, Panmela Castro, Joelington Rivers, Thiago Martins de Mello e ainda mais. Orgulho estarmos em uníssono com um projeto tão vasto quanto fundamental, ao passo que seguimos em cartaz no Centro Cultural Inclusartiz, com a mostra “O Sagrado na Amazônia”, com curadoria de Paulo Herkenhoff e Lucas Albuquerque, assim como com a programação de falas, conversas e exibições audiovisuais atreladas ao Laboratório Amazônico, com curadoria de Victor Gorgulho e co-curadoria do pesquisador Henrique Rondinelli.