Instituto Inclusartiz inaugura exposição virtual que traça um mapa da cena drag na arte contemporânea
Com curadoria de Lucas Albuquerque, “ARRASTO” apresenta vídeos, performances e artes digitais de Akira Hell, Gui Mauad, Iryna Leblon, Organzza e UNA a partir do dia 14 de outubro na plataforma Bica
Com a proposta de mapear e difundir a cena drag na arte contemporânea, o Instituto Inclusartiz inaugura a exposição virtual “ARRASTO”, que apresenta trabalhos de cinco artistas de grande relevância e de diferentes origens dentro do segmento cultural LGBTQIAP+ no país. O curador Lucas Albuquerque, que também é coordenador do programa de residências artísticas do instituto, convidou Akira Hell, Gui Mauad, Iryna Leblon, Organzza e UNA para criarem obras inéditas, entre vídeos, performances e artes digitais, para a mostra que ocupa a plataforma Bica a partir do dia 14 de outubro.
“Durante o ano de 2022, foram organizadas uma série de encontros para a discussão de textos, trocas sobre processos artísticos e conversas com este grupo de artistas. Os trabalhos comissionados para esta exposição são frutos desse processo de acompanhamento, que visa não apenas debater tópicos importantes para o entendimento acerca da performatividade drag, perpassando temas como cultura visual, gênero e corpo, mas também estratégias de inserção e circulação no mercado da arte”, afirma o curador.
Ao longo de dez semanas, cada um dos projetos será exibido em uma página dedicada, junto a uma programação quinzenal que reúne entrevistas individuais, painéis e lives, de modo a desvendar como a cena drag vem repensando as práticas artísticas dentro do segmento. Além disso, o projeto pretende desdobrar mesas de debate com as artistas e eventos presenciais em torno de suas práticas, que serão sediados no Instituto Inclusartiz. Dividida em duas etapas, a exposição, cuja primeira fase foi viabilizada pelo edital FOCA, pretende posteriormente se transformar em uma exposição coletiva presencial, que contará com outros artistas da cena contemporânea, buscando estabelecer um fio condutor a partir das práticas apontadas pela performatividade drag e a maneira como elas se relacionam com as questões em voga na arte contemporânea.
AS ARTISTAS E SUAS OBRAS
Akira Hell
Retificação ao corpo, 2022
Vídeo digital e fotografia
Utilizando o corpo como um lugar de metamorfose e laboratório, o trabalho apresentado por Akira Hell é estruturado de modo a evidenciar o nascimento de uma nova criatura, onde o humano e o não-humano se encontram. Construído a partir de narrativas de vídeo e fotografias, o projeto se modula por meio da construção desse ser: iniciando-se no casulo, passando ao ventre, seguindo pela mandíbula e findando-se na formação da estrutura óssea. Atingindo sua forma final, a artista põe o corpo a transitar pelas ruas em posição de ataque, desafiando o olhar do outro. O trabalho integra a pesquisa da artista em torno da produção de um corpo dissonante, em que faz uso de próteses e objetos como maneira de congregar atributos e usos distintos à existência humana.
Sobre Akira Hell
Layonel Piter, de 26 anos, é nascido e criado em Duque de Caxias – RJ. Dele vem a persona Akira Hell, uma criatura mutante que pertence a cena noturna do Rio de Janeiro, onde busca trazer questionamentos acerca do corpo, que em sua prática é entendido como um laboratório capaz de minar estruturas e relações de poder que constroem a cultura contemporânea. Sua performance resulta em uma abordagem tanto sexual quanto bizarra, onde por meio de próteses, materiais orgânicos e indumentária, fabrica um universo creepy próprio que a possibilita elaborar fotografias, vídeos e performances. O corpo é seu objeto de pesquisa: tensionado na busca por seu limite, a artista busca fusionar a figura do humano, do animal e do monstro, apresentando-o como um dispositivo para instigar o debate sobre o que é a performance em drag.
Gui Mauad
Bucólica, 2022
Vídeo-performance
Bucólica é uma vídeo-performance que apresenta duas personagens – um apicultor muito ocupado, arquetipicamente masculino, e sua devota parceira – que vivem uma relação de dependência e ilusão. A obra mistura o fenômeno da comunicação não-verbal num casal romântico com o surrealismo sempre presente no trabalho de Gui Mauad. As linhas entre as sensações vividas pelas personagens se fundem com a sua imaginação fértil, que busca justificar nas expectativas da mulher a inércia do homem. O vídeo busca explorar, além da performance, a visualidade desenvolvida pelas mãos de Gui ao confeccionar os figurinos, maquiagens e a conceitualização da peça com seus desenhos. O artista vive ambas as personagens e traz a intimidade das duas versões de si mesmo para dialogarem entre si.
Sobre Gui Mauad
Guilherme é ilustrador, pintor, maquiador e artista visual e dá vida a Gui Mauad, sua drag; atuando em uma intersecção entre performance e teatro. No mundo da beleza, tem reconhecimento nacional e internacional por sua contribuição ao movimento Alien Avant-Garde (STATUS Magazine) e na UOL Universa. É maquiador em formação da CAMPI Makeup School e tem ilustrações publicadas no livro “Quando Você Voltar”, de Michel Cambrona. Já performou em diversos palcos do Rio de Janeiro, como Teatro Rival, Fosfobox, Galpão Gamboa, e também em festivais de música e arte, como o carnaval Saturnália, no Museu de Arte do Rio – MAR, e na festa Sangra Muta, em São Paulo. Gui Mauad é performer residente da festa KODE, onde explora sua arte performática com liberdade. Em seu trabalho, busca desdobrar sua persona em uma intersecção entre o alienígena e o botânico, criando um universo ficcional que tensiona as possibilidades de um corpo em constante transmutação.
Iryna Leblon
Algoritmo, 2022
Vídeo
Em “Algoritmo”, Iryna busca expor suas vivências e angústias envolvendo a digitalização de nossas relações com o corpo. O termo “algoritmo”, popularizado na era do desejo por “engajamento” nas redes sociais, representa a forma como equivocadamente acreditamos que nossas escolhas sobre nossos corpos estão totalmente livres de vigilância no mundo real. No vídeo, desenvolvido a partir de animação 3D, a artista faz uso da repetição de informações para a construção de uma narrativa em que as questões existencias do mundo real encontram seu eco na tela digitalizada.
Sobre Iryna Leblon
Iryna, de 21 anos, é nascida e criada no Rio de Janeiro e acadêmica do curso de Comunicação Visual da UFRJ. Atua como designer gráfica autônoma e seus projetos misturam desde a fotografia até universos 3D. Seus trabalhos partem de sua vivência enquanto LGBTQIAP+, propondo universos imaginários e ficcionais por meio da imagem. Para isso, Iryna investiga o ambiente digital como um espaço de possibilidade para a construção de sua persona, na qual a cena ballroom, movimento que esteve em alta na década de 1980 e ressurgiu nos últimos anos no mainstream, é mesclado a uma ideia de futurismo “mastigado”, criando um universo onde a resistência histórica dos movimentos pela diversidade proporcionem também outras perspectivas de futuro.
Organzza
E se fosse carnaval o ano inteiro?, 2022
Fotografia digital
É possível uma realidade em que o julgamento alheio em torno das expressões identitárias e de gênero sejam anuladas, reimaginando nossos acordos sociais? O projeto “E se fosse carnaval o ano inteiro?” se constrói a partir de uma série de fotografias em que Organzza, drag queen e artista visual, evidencia espaços em que os acordos sociais atuam e podem ser questionados. Levando para a rua as fantasias de carnaval e as práticas de montação, a artista provoca a maneira de fruição dos espaços públicos, provocando a estranheza em fazer conviver alegorias carnavalescas no cotidiano urbano.
Sobre Organzza
Vinícius Andrade é ator e figurinista acadêmico do curso de Artes Cênicas da UFRJ. Atualmente trabalha como artista visual e criador de conteúdo com sua personagem drag: Organzza, vencedora da segunda temporada do TNT Drag. Sua performance encontra referências no afrofuturismo, flertando com a moda e as artes visuais. Por meio da fotografia e da performance, Organzza busca trabalhar com figuras cujas referências remontam ao campo do sagrado, da fantasia e, principalmente, ao universo do carnaval, apresentando-os em meio ao cenário urbano. Além disso, sua pesquisa pretende mesclar a cena do carnaval com a da ballroom, buscando as relações que concernem às suas alegorias, visualidades e resistências.
UNA
Metamorphosis, 2022
Vídeo
“Metamorphosis” teve início em 2020 enquanto produção audiovisual, reunindo vídeo, performance, arte 3D e produção musical. O projeto retrata uma relação entre o corpo vivo e humano da personagem principal – UNA – com uma forma de vida desconhecida que toma conta do seu corpo, aos poucos, de forma simbiótica. Fazendo conviver as modificações do corpo e seu prolongamento na indumentária, “Metamorphosis” já virou também performance ao vivo em 2022, na festa Neblina, e agora volta às telas na exposição, trazendo um novo ato.
Sobre UNA
Eduardo é publicitário, tem 27 anos e transitou entre diferentes formas de expressões artísticas durante o seu crescimento. Há alguns anos, encontrou na drag UNA uma forma de canalizar as inspirações que o atravessa. Utiliza tanto do ambiente físico como do digital para a realização de seus projetos. UNA aborda questões de gênero e indumentária a partir da moda, buscando a intersecção entre o camp e o andrógino por meio de sua montação. Em seus trabalhos recentes, a artista pretende elaborar a ideia de mutação e transformação como uma chave de leitura para a performatividade drag, investigando diferentes possibilidades de leitura que a indumentária pode proporcionar.
SERVIÇO
ARRASTO
Curadoria: Lucas Albuquerque
Artistas: Akira Hell, Gui Mauad, Iryna Leblon, Organzza e UMA
Período expositivo: 14 de outubro a 31 de dezembro
Acesso: www.bicaplataforma.com/arrasto
Apoio: FOCA: Fomento à Cultura Carioca e Prefeitura do Rio de Janeiro