12 de julho de 2022

Exposição “Gamboa: nossos caminhos não se cruzaram por acaso”, em cartaz no Centro Cultural Inclusartiz, é prorrogada até 31 de julho

Aberta ao público em 20 de maio, a mostra, que apresenta cerca de 80 obras de 25 artistas e coletivos conectados afetivamente à região portuária do Rio de Janeiro, já recebeu cerca de 800 visitantes

Diante do sucesso de público, o Centro Cultural Inclusartiz estendeu a visitação à exposição “Gamboa: nossos caminhos não se cruzaram por acaso” — originalmente prevista para encerrar no próximo domingo, dia 10 — até 31 de julho. Em cartaz desde 20 de maio, a mostra, que apresenta cerca de 80 obras de 25 artistas e coletivos conectados afetivamente à região portuária do Rio de Janeiro, já recebeu cerca de 800 visitantes.  

Além dos trabalhos exibidos na exposição, o Instituto Inclusartiz, organização sem fins lucrativos à frente do centro cultural, também assume com esta mostra o compromisso de abranger as mais distintas manifestações de arte por meio de um mapeamento cartográfico que sinaliza o trabalho de mais de 70 artistas pela região, que entre o grafite, o pixo, o mural e outras expressões, tomaram a rua como o seu suporte. 

O carioca Lucas Albuquerque, coordenador do programa de residências artísticas do Instituto Inclusartiz, é o curador da mostra “Gamboa: nossos caminhos não se cruzaram por acaso”. Foto: Beatriz Gimenes

O carioca Lucas Albuquerque, curador independente e Coordenador do Programa de Residências Artísticas da instituição, assina a curadoria da mostra, cujo objetivo principal é promover e valorizar a produção artística local, bem como aproximar a comunidade e seu entorno ao espaço. 

Inspirado em um manuscrito de Tia Lúcia, pintora, escultora e moradora do Morro do Pinto (“Nossos caminhos não se cruzaram por acaso. Os maiores especialistas em sorrisos estão aqui”), o título da mostra faz eco ao desejo de abordar os cruzamentos entre artistas e produtores de cultura da região, em pleno crescimento enquanto polo cultural na cidade, resultado e resultante de uma série de disputas e diálogos. 

“A exposição busca pensar a região a partir da proposta do encontro, propiciado pelo cruzamento de caminhos entre artistas, curadoria, pesquisa e instituição, valendo-se das transformações e passagens como força-motora para lembrar o passado do lugar que ocupamos hoje e analisar as práticas que se desenham sob seus rastros”, reflete o curador. Além de referência para o nome da exposição, Tia Lúcia está presente na coletiva com 17 trabalhos, sendo que cinco deles nunca foram exibidos para o público geral. 

O título da exposição é inspirado em um manuscrito de Tia Lúcia, pintora, escultora e moradora do Morro do Pinto. Foto: Bandeira Tia Lúcia (2019), de Thiago Haule e Diego Zelota / Beatriz Gimenes

“Elegemos, como o título evidencia, a artista Tia Lúcia como madrinha da exposição. Essa escolha ocorre não apenas pela excelência de sua produção multifacetada, mas também pela integridade de sua crença no encontro como objetivo final do fazer artístico. Isto porque ela distribuiu grande parte de sua produção entre familiares, amigos e vizinhos do morro em que morava. Ainda que sua absorção aos museus tenha ocorrido tardiamente, Tia Lúcia construiu uma rede que atravessa e irrompe qualquer estrutura de validação para construir a sua própria”, completa. 

Embora seja composta majoritariamente por obras de artistas contemporâneos, a seleção de pinturas, esculturas, fotografias e vídeo-performances também inclui trabalhos de personagens notáveis da história da arte brasileira. Augusto Malta (1864-1957), principal fotógrafo da evolução urbana do Rio nas primeiras décadas do século XX; Heitor dos Prazeres (1898 – 1966), compositor e pintor de destaque na cultura popular brasileira; e o premiado gravurista Rossini Perez (1932-2020) retrataram e viveram amplamente o ambiente da zona portuária da cidade ao longo de suas trajetórias. 

Multigeracional, a relação de artistas vivos compreende atuais e ex-residentes do bairro e nomes que concentram suas produções no local e adjacências: Bordô, Bruna Santos, Camila Ribeiro, Coletivo MP, Daniel Murgel, Diego Deus, Douglas Dobby, Gustavo Speridião, Lolly, Laís Amaral, Leandro Barboza, Leandro ICE, Mãe Celina de Xangô, Maurício Hora, Oficina do Prelo, Raphael Couto, Rainha F., Slam das Minas, Teresa Speridião, Thiago Haule e Yhuri Cruz. 

Evento de abertura da exposição no dia 20 de maio deste ano. Foto: Wagner Kox

O bairro da Gamboa, cujo nome faz alusão à presença de pescadores que ao longo do século XIX armavam “gamboas”, pequenos braços de mar que serviam como armadilhas para capturar peixes, abriga o Cais do Valongo, palco de uma história inescapável. Cunhado de “Pequena África” por Heitor dos Prazeres e também conhecido como Circuito Histórico Arqueológico de Celebração da Herança Africana, foi o lugar que mais recebeu pessoas escravizadas do continente no mundo, e nas cercanias do Centro Cultural Inclusartiz localiza-se o ponto em que eram enterrados os corpos dos que chegavam ao cais e morriam antes de serem vendidos. 

“Partimos destes encontros para uma leitura histórica, entendendo que as feridas ocasionadas por essas passagens ainda estão abertas. Decerto, uma das mais profundas instala-se sobre o solo que pisamos – o mesmo pisado por milhões de corpos negros sequestrados do continente africano, aportados nesta região entre os séculos XVIII e XIX”, afirma Lucas Albuquerque.

No bairro, encontra-se ainda o antigo Morro da Favela, atual Morro da Providência, além de outras comunidades importantes na dinâmica do Centro do Rio de Janeiro. Da Revolta da Vacina a João do Rio, do carnaval às grandes reformas urbanas de Pereira Passos, de Beth Carvalho a Heitor dos Prazeres, a região que circunda o centro cultural carrega diversas histórias de encontros.

“Tendo em vista a história deste território, que urge em ser narrada e rememorada, e sua atual transformação, que encontros estão se dando neste momento e quais outros são possíveis de serem proporcionados?”, questiona o curador. 

Serviço:

Centro Cultural Inclusartiz

Rua Sacadura Cabral, 333

Praça da Harmonia/Gamboa, Rio de Janeiro

Visitação: quinta-feira a domingo, das 11h às 18h.

Nova data de encerramento: 31 de julho

Entrada Gratuita.