23 de setembro de 2022

HAL WILDSON É SELECIONADO PARA O PROGRAMA DE RESIDÊNCIAS ARTÍSTICAS DO INSTITUTO INCLUSARTIZ NA 40ª EDIÇÃO DO ARTE PARÁ

Artista multimídia goiano foi escolhido por meio de parceria inédita entre o instituto carioca e a tradicional exposição paraense

Um dos principais fomentadores de arte contemporânea do país, o Instituto Inclusartiz elegeu, por meio de uma parceria inédita com o Arte Pará, tradicional mostra coletiva que celebrou seu 40º aniversário este ano, o artista goiano Hal Wildson para integrar o seu renomado programa de residências artísticas. Com coordenação de Lucas Albuquerque, o projeto de pesquisa e desenvolvimento em artes, realizado na nova sede do Inclusartiz, na região portuária do Rio de Janeiro, inclui apoio curatorial personalizado, visitas a ateliês e instituições culturais, encontros com curadores e pesquisadores, apresentação de trabalhos, entre outras atividades.

“Nos últimos anos debruço a minha pesquisa sobre símbolos e documentos que ajudam a confrontar as questões da identidade, a independência do Brasil e o poder desse imaginário simbólico oficial. Levar parte dessa pesquisa para o Rio de Janeiro é muito oportuno, uma vez que a cidade fez parte de capítulos importantes da nossa história e possui ligação direta com os temas que me interesso. Esse laboratório e vivência no Rio de Janeiro me dará uma bagagem essencial para que eu possa desenvolver essa pesquisa, especialmente em um instituto tão respeitado e preocupado com os novos olhares de arte que vão além do eixo Rio-São Paulo”, afirma Wildson.

Hal Wildson foi escolhido para integrar o programa de residência artística do Inclusartiz por meio de parceria inédita entre o instituto e a Arte Pará / Foto: Rebecca Alves / O Globo

Artista multimídia e poeta de origem mestiça, Wildson nasceu em 1991 no Vale do Araguaia, região de fronteira entre Goiás e Mato Grosso, lugar determinante para entender a origem e as motivações de seu trabalho. Sua pesquisa emerge de sua vivência no sertão do Centro-oeste dialogando com questões sociopolíticas que sustentam o Brasil. Desdobrando-se sobre o conceito de memória-esquecimento, identidade e a “escrita-reescrita” da história, o artista se apropria de materiais e processos de documentação que foram utilizados nas últimas décadas para registrar oficialmente a história do país, como a datilografia, datilograma, carteiras de identidades e carimbos. Suas obras ousam confrontar e disputar o poder do simbólico como alternativa de criar realidades mais justas.

“Nesse momento me dedico a projetos de criação de bandeiras, vídeos e fotografias que são parte da intenção de trazer à tona símbolos que construíram o Brasil que conhecemos. O mesmo Brasil forjado pelo autoritarismo, pelo colonialismo, pela violência e pelo genocídio é também o Brasil de um povo que ousa sonhar com um futuro de utopias. Dar luz a esses “Brasis” em um momento tão simbólico é uma forma de criar novas possibilidades de futuro, construindo novas narrativas e promovendo debate sobre justiça social e reparação histórica”, explica.

O Arte Pará surgiu do programa idealizado pelo jornalista Romulo Maiorana (1922-1986), no início dos anos 1980, com o objetivo de ser um espaço de apoio ao artista paraense e de promover um diálogo da região Norte com o resto do país, estabelecendo a presença da Amazônia no mapa das artes como um salão. Ao longo de suas edições ininterruptas, tornou-se um projeto de arte e educação nacional e lugar de troca intelectual entre artistas, curadores e agentes culturais, além de espaço de reflexão e crítica, que legitima jovens artistas emergentes.

Há mais de 20 anos, Paulo Herkenhoff, um dos críticos de arte e pensadores mais relevantes do país, está à frente do Arte Pará, como curador-geral do evento. Para ele, o Arte Pará tem “importante papel de socialização da arte, desenvolvido pelo processo educacional, muito mais que mercado de arte’’.