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Ana Lira

Brasil

Ana Lira (1977)
Caruaru – Pernambuco – Brasil)

As experiências em que procuro estar presente passam por três pilares: como viver pode ser um ato político, as vivências coletivas como processos de mediação e o desenvolvimento de obra-projeto em vez de obra-objeto. Neste sentido, os projetos em que eu estou envolvida acontecem por meio de parcerias e criações coletivas que observam as entrelinhas e articulações das relações de poder que afetam nosso cotidiano e a forma como produzimos conhecimento no mundo. Vivencio estes processos garimpando, articulando e elaborando estratégias de mediação e
comunicação. A imagem, em suas variadas formas, as publicações, as intervenções urbanas, ações de formação e as experiências de intercâmbio com quem está buscando alternativas paralelas de existência estão inseridas nesta trilha. Os projetos em fotografia e artes visuais que eu tenho desenvolvido, como Voto!, Não-Dito, Mandalla e Terrane e os projetos
formativos Entre-Frestas e Cidades Visuais fazem parte deste ciclo.

Additional Information

Currículo Resumido – Fotógrafa e artista visual que vive e trabalha em Recife, Brasil. Os seus trabalhos se debruçam sobre relações de poder e implicações nas dinâmicas de comunicação. É especialista em Teoria e Crítica de Cultura. Desenvolveu trabalhos de pesquisa independente, curadoria e projetos educacionais articulados com projetos visuais. Participou de mais de sete coletivos durante duas décadas. É articuladora dos projetos educacionais Cidades Visuais, Entre-Frestas e Circuitos Possíveis. Recebeu o Prêmio Funarte Arte Contemporânea 2015 pela exposição Não-Dito.

Exibiu trabalhos nas exposições À Nordeste (Sesc 24 de Maio, São Paulo, 2019); Entremoveres (Museu da Abolição, Recife, 2019), Não-Dito (CAL,Brasília, 2019; CCBEU, Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, Belém, 2017; CCI, Recife, 2015); Os da Minha Rua (MAB, Recife, 2018), Arte Democracia Utopia (MAR, Rio de Janeiro, 2018-2019) com o coletivo Amò, As Bandeiras da Revolução: Pernambuco 1817-2017 (Galeria Massangana, Política da Arte, Fundaj, Recife, 2017), Agora Somos Todxs Negrxs (VideoBrasil, São Paulo, 2017), Antilogias: o fotográfico na Pinacoteca (Pina, São Paulo, 2017); na ação coletiva Aparelhamento (São Paulo – 2016); na mostra coletiva Fotos Contam Fatos (Galeria Vermelho, São Paulo – 2015/2016); na 31a Bienal Internacional de Arte de São Paulo (São Paulo, 2014) e nas itinerâncias no Palácio das Artes, Belo Horizonte – 2015 / Museu de Serralves, Porto, Portugal, 2015/2016); no programa Raízes e Asas (SESC VITRINE, Sesc Santana, São Paulo, 2015); na mostra coletiva Slides (Feira Plana, São Paulo, 2016); no Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre (Fest Foto Poa, Margs, 2015); na exposição Marés (Sesc Sergipe, Aracaju, 2013 – Trotamundos Coletivo); e na coletiva Linguagens 2008 (Museu do Estado de Pernambuco, Recife, 2008).

Participou dos programas de residência Arte e Ativismo na América Latina, parceria da Despina com a organização holandesa Prince Claus Fund. A terceira edição (2018) do projeto teve como tema Dissenso e Destruição; Residência São Jerônimo articulada pelo artista Alexandre Sequeira, na cidade de Belém/PA, com o intuito de conectar projetos que debatam permanência, impermanência, memória, afeto e cidade. O projeto focou na experiância do Voto| Não-Dito na memória coletiva; e do programa de residência promovido pelo artista Eustáquio Neves, em Diamantina/MG, com a orientação do projeto Terrane, no ENA.

É autora do livro Voto, publicado pela editora independente Pingado Prés e do livro Terrane (Recife, Retratografia, 2018, edição digital – projeto elaborado em diálogo com Cláudia Oliveira, Lourdes da Silva e Luzia Simões). Publicou na série Pretexto, da Tenda de Livros; na coletânea Outras Fotografias na Arte Brasileira Séc. XXI, da Editora Cobogó; no Jornal de Borda (Edições 02 e 03), da Ediciones Costeñas/Tenda de Livros; Ateliê Publique-se V.5, pela Livrinho de Papel Finíssimo; e Linguagens 2008. Participou dos filmes coletivos [projetotorresgemeas] e Eleições: crise de representação.

Proposição para a residência

Nas cidades que trabalho, mapeio e acompanho experiências coletivas para compartilhar experiências e fortalecer práticas de colaboração criativa e política. Um dos exemplos deste tipo de projeto é o Voto! | Não-Dito que encerrou no primeiro semestre de 2019, depois de 6 anos de caminhada. Ele culmina em uma exposição que se modifica com o contexto da cidade em que é exibida. Permaneço nas cidades, durante a exibição, mapeando coletivos e construindo experiências que discutem falta de representatividade.

Isso se desdobrou no projeto …sobre um sentir insurgente, que por meio de vivências, mapeamentos e análise de produções simbólicas trazidas por participantes dos workshops, intercâmbios entre artistas e ativistas e sessões de ateliês abertos elabora uma produção de materialidades sensíveis para uso em espaços e instituições públicas e a construção de intervenções urbanas.

Um segundo caminho do que me interessa se debruça sobre um mapeamento de rotas, narrativas, estratégias, artefatos, vivências, desejos e visualidades que foram renegadas, esquecidas ou desconsideradas em suas potencialidades. Eu os vejo como portais de experiências latentes que ajudam a rever micropolíticas de existência.

Sinto necessidade de compreender como as estratégias de sobrevivência dos povos negrodescendentes respiram em outros países e quais os possíveis intercâmbios com o nosso cenário. Diante dos desafios proporcionados pelo contexto do Brexit, acredito que Londres é uma cidade-chave para olhar para experiências latentes sobre estas questões.

O que fortaleceu ainda mais a minha vivência nessas questões foram dois projetos que iniciaram no ano passado: um coletivo, que se chamou Política Pública e outro que eu tenho desenvolvido convidando pessoas para compartilhar comigo alguns saberes específicos, que é o Numbra.

Política Pública foi um projeto produzido com mais quatro artistas negras, no Rio de Janeiro, que são Marta Supernova, Marina Alves, Thais Rosa e Thais Rocha, em uma articulação coletiva que batizamos de Amò. Fizemos uma escuta das estratégias de articulação comunitária dos moradores da região da Pequena África, entre agosto de 2018 e junho de 2019, e materializamos vivências, oficinas, artefatos, encontros e um espaço de trocas coletivas. Uma síntese das ações do projeto foi exibida no Museu de Arte do Rio, na exposição Arte, Democracia, Utopia.

As vivências de Numbra, por sua vez, consistem de um convite que eu faço para 9 pessoas, que podem ser artistas-ativistas ou não. Como na residência estou convivendo com as comunidades diaspóricas e, com muita calma, tentando observar como se constroem esse lugar de potencialidades, acolhimento e articulação em contextos que tensionam os fluxos migratórios, eu senti que podia ser bacana produzir uma ou dias vivências da Numbra na residência.

E quero pensar com carinho, também, em construir uma publicação experimental como resultado desse processo, além de pensar em intercâmbios entre os grupos e artistas que tenho convivido na residência com os que eu tenho trabalhado no Brasil.

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